segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A EFERVESCÊNCIA DO COMEÇO

"É que o amor é essencialmente perecível. E na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do Céu. Mas depois! ... Seria, pois, necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?" Eça de Queirós - O Primo Basílio




I – O começo
                                                                                                         
E lá estão fugindo para os cantos de novo. Faz uma semana que estão juntos, oficialmente. Ele pensa nela todo o tempo. Ela pensa nele todo o tempo. Não pensa-se em si mesmo. Pensa-se em dois ou pelo menos tenta-se. Se tornar um só é o grande objetivo. Chega-se a perfeição e nem percebe. No começo - todos os dias são iguais, mas são diferentes. No começo - ele diz que a ama. Ela o corresponde. Os olhos brilham. É o começo da felicidade - todos que percebem aqueles dois, sentem a efervescência do começo. Os olhos dos que percebem brilham também por entender que o que perceberam é Amor.

II – E perto de fazer ano...

As semanas passam e o brilho dos olhos continua tocando a quem percebe aqueles dois. Passam-se meses. E chega-se perto de fazer ano. Mas esse bem maior (o Amor) começa a se envelhecer e, por fim, se banaliza. O brilho dos olhos deles e de quem percebe começa a se enfraquecer. Lágrimas que outrora representavam alegria, agora é tristeza. Favores, generosidades, carinhos são esporádicos agora. Ele passou mal naquele começo frio de junho. Pegou um resfriado voltando da faculdade. Ela vai até sua casa para encontrá-lo e o vê queimando em febre. Ela até se preocupa. Ela o medica e diz que tem que ir embora, pois já estava tarde e precisava dormir pra acordar cedo para ir à faculdade. No outro dia, ela só liga à tarde e até pergunta a ele se está melhor. Ele diz que sim e pede a ela que vá até a casa dele. Ela diz que já está chegando. Porém, demora mais de duas horas. O trânsito é a sua justificativa. Ela senta no sofá ao lado dele. Ele coloca a cabeça em seu colo. Ela afaga os seus cabelos. Não do mesmo modo que outrora. Conversam. Quase não se entreolham. Não existe mais aquela vivacidade do começo.

III – Um feriado de domingos

É véspera de feriado. Ela diz que tem que ir embora para arrumar as malas, pois vai viajar amanhã. Ele pede a ela para não ir amanhã e sim depois de amanhã. Ela diz que não dá, pois está com saudade dos pais. Mas ele entende o que ela quis dizer. Afinal de contas, vai fazer ano e as outras vésperas de feriados foram diferentes. Ele se entristece. Ela finge não perceber e vai embora. O feriado é longo. Segundo dia de feriado e a única ligação que ele recebe é da mãe perguntando se ele havia melhorado. Feriado longo. O mais longo de todos os anteriores. O mais frio. O mais solitário. Um feriado de domingos. Ele tem a sensação de que as coisas nunca voltarão a ser como antes. Como o começo. Não há mais de um começo. Ele percebe então que o começo da felicidade não era o começo e sim a felicidade. Um turbilhão de ideias soltas que depois juntam-se e tornam-se conclusões vêm à tona. E os olhos não brilham mais. Eles se envelheceram junto ao amor. E os olhos dos que percebem não brilham mais e se envelhecem também. E a incerteza do porvir é a única certeza que ele tem. É o começo da tristeza. É a efervescência do começo. E o feriado ainda não se acabou...







Um comentário:

  1. E o amor se trata disso?
    Saudades, perdas, histórias de fim?
    Sentidos antigos
    De sonâmbulos mudos que se cruzam
    Todos os dias na ida para o trabalho.

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