segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Guarde

Guarde-se pra mim
Saia com os seus amigos
Cante, encante, cheire e saboreie
as meninas que te desejarem também
Mas guarde-se pra mim

Guarde-se pra mim
Mas não o melhor de você
Quero os teus vícios, teu mau humor
Quero a pobreza que te habita e você reprime
Quero que guarde-se pra mim

Guarde-se pra mim
Muito
Do pouco
Do muito
Do que é
você pra mim                               

Pontue você mesmo o Cor-cova-do!

Cor-cova-do

Cor da tiara no cabelo
Quanta cor que vi que não
fui a mesma cor que nunca vi
na fila do cine na Frida as cores
kahlo com as cores de Frida na cor
da tua tiara no cabelo na fila cine-cor

Cova da menina no rosto
Na cova funda funda em mim
a tua cova que não sai da mente
e que com a tiara me ganhou jáquê
a tiara e a cova são duas coisas de uma
só menina que com a sua cor não viu a minha

Do cine a fila do teatro de Frida
As cores do cabelo são as cores da
tiara e as dores do México nas cores de
Frida kahlo são quimeras na minha demente
mente que cria criaturas pra preencher o vazio
do que é não ama(R)nhã no Natal que nunca chega
A EFERVESCÊNCIA DO COMEÇO

"É que o amor é essencialmente perecível. E na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do Céu. Mas depois! ... Seria, pois, necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?" Eça de Queirós - O Primo Basílio




I – O começo
                                                                                                         
E lá estão fugindo para os cantos de novo. Faz uma semana que estão juntos, oficialmente. Ele pensa nela todo o tempo. Ela pensa nele todo o tempo. Não pensa-se em si mesmo. Pensa-se em dois ou pelo menos tenta-se. Se tornar um só é o grande objetivo. Chega-se a perfeição e nem percebe. No começo - todos os dias são iguais, mas são diferentes. No começo - ele diz que a ama. Ela o corresponde. Os olhos brilham. É o começo da felicidade - todos que percebem aqueles dois, sentem a efervescência do começo. Os olhos dos que percebem brilham também por entender que o que perceberam é Amor.

II – E perto de fazer ano...

As semanas passam e o brilho dos olhos continua tocando a quem percebe aqueles dois. Passam-se meses. E chega-se perto de fazer ano. Mas esse bem maior (o Amor) começa a se envelhecer e, por fim, se banaliza. O brilho dos olhos deles e de quem percebe começa a se enfraquecer. Lágrimas que outrora representavam alegria, agora é tristeza. Favores, generosidades, carinhos são esporádicos agora. Ele passou mal naquele começo frio de junho. Pegou um resfriado voltando da faculdade. Ela vai até sua casa para encontrá-lo e o vê queimando em febre. Ela até se preocupa. Ela o medica e diz que tem que ir embora, pois já estava tarde e precisava dormir pra acordar cedo para ir à faculdade. No outro dia, ela só liga à tarde e até pergunta a ele se está melhor. Ele diz que sim e pede a ela que vá até a casa dele. Ela diz que já está chegando. Porém, demora mais de duas horas. O trânsito é a sua justificativa. Ela senta no sofá ao lado dele. Ele coloca a cabeça em seu colo. Ela afaga os seus cabelos. Não do mesmo modo que outrora. Conversam. Quase não se entreolham. Não existe mais aquela vivacidade do começo.

III – Um feriado de domingos

É véspera de feriado. Ela diz que tem que ir embora para arrumar as malas, pois vai viajar amanhã. Ele pede a ela para não ir amanhã e sim depois de amanhã. Ela diz que não dá, pois está com saudade dos pais. Mas ele entende o que ela quis dizer. Afinal de contas, vai fazer ano e as outras vésperas de feriados foram diferentes. Ele se entristece. Ela finge não perceber e vai embora. O feriado é longo. Segundo dia de feriado e a única ligação que ele recebe é da mãe perguntando se ele havia melhorado. Feriado longo. O mais longo de todos os anteriores. O mais frio. O mais solitário. Um feriado de domingos. Ele tem a sensação de que as coisas nunca voltarão a ser como antes. Como o começo. Não há mais de um começo. Ele percebe então que o começo da felicidade não era o começo e sim a felicidade. Um turbilhão de ideias soltas que depois juntam-se e tornam-se conclusões vêm à tona. E os olhos não brilham mais. Eles se envelheceram junto ao amor. E os olhos dos que percebem não brilham mais e se envelhecem também. E a incerteza do porvir é a única certeza que ele tem. É o começo da tristeza. É a efervescência do começo. E o feriado ainda não se acabou...







As mortes das minhas ex


Não há no vocabulário dos sonhos a palavra “impossibilidade”. É isso mesmo, meus amigos! Os nossos desejos mais insanos podem se concretizar nos sonhos. Tudo é uma questão de querer e se concentrar. Eu, tão bem-sucedido no profissional e tão mal-sucedido no pessoal, encontrei uma maneira de não sofrer mais - quando ELAS me rejeitam - através dos meus sonhos.
Me lembro bem da primeira vez que consegui essa proeza. Eu estava namorando a Gracinha. Já tínhamos dois meses e três dias de namoro. Ela fazia jus ao nome: era uma gracinha! E como ficava mais bonita ainda com vergonha: vermelhinha! Mas sem recaídas, meus amigos! Imagine que - friamente - Gracinha terminou comigo. Dizia ela que já não gostava de mim. Sofri por dias e noites. E como sofri! Foi quando em um desses dias de lamúrias, eu sonhei com ela. Sonhei que discutíamos e eu a matei. Simples assim! Bati sem querer a sua cabeça contra a parede e a matei. No outro dia acordei muito bem. Coloquei "Bethoven the nine symphones" e percebi que já não sentia mais nada. Já não sofria.
Depois foi a vez da Cidinha. Ela não havia terminado oficialmente comigo, mas não foi preciso. Bastou ela beijar outro na minha frente. Até hoje não consegui entender tamanha crueldade. Quando chegava do trabalho, o mesmo ritual de sofrimento. Colocava Black de Pearl Jam, tomava o meu whisky e fumava milhares de cigarros - também black - sentado no meu divã. Ficava relembrando aquela nossa viagem a Veneza. Como foi boa aquela viagem! Sofria e sofria e sofria... Já sofria por uma semana quando me lembrei da morte da Gracinha. Era só fazer o mesmo. Simples assim! Era só matar Cidinha também. Bastava isso e o meu sofrimento acabaria. Naquela noite, me concentrei e sonhei com Cidinha. Não é que até no meu sonho, a Cidinha me traiu? Ela estava com Antônio, nosso vizinho, na minha cama! Vejam só que audácia! Matei os dois. Bastou uma facada sem querer em cada um e num instantinho eles passaram pro andar de cima. No outro dia acordei tão bem quanto da primeira vez em que matei. Coloquei "Bethoven the nine symphones", tomei banho, coloquei a minha melhor roupa e fui dar uma volta.
Depois disso, matei muitas outras ex. Teve a Joana, Carmelita e Amélia. Matei todas! Teve a Maristela também. Imagine que esta última imitou a Cidinha. Me traiu também. Mas não foi com um homem. Foi com uma mulher. Uma mulher! Ah, mas por esta não sofri um dia. Tratei logo de me concentrar e sonhar com ela. Fui atrás dela. E quando estava chegando em sua casa, eis que surge uma mulher. Ela vinha em minha direção. Que Mulher! Era ruiva, estatura mediana e tinha um corpo que até as mulheres - incluindo Maristela - desejariam. Fiquei paralisado e esperei que ela se aproximasse de mim. Nos entreolhamos muito. Foi quando uma catástrofe sucedeu. Eu... eu... eu... acordei. Droga! Eu acordei, meus amigos! Assustado e maravilhado com a formosura daquela mulher eu a-cor-DEI. Quem é aquela Mulher? Quem é? Eu nunca a vi. Estou apaixonado por ela e nunca a vi. Como pode, meus amigos! Não sei quem é ela, mas preciso encontrá-la. Preciso vê-la! Preciso beijá-la! Preciso penetrá-la! Preciso! Preciso, preciso, preciso!
Agora, todas as noites eu me concentro e sonho com ela. Até a vejo. Mas... ela não quer me dizer o seu nome e nem onde encontrá-la... Sorte da Maristela que se safou!
Qual é o seu tom?


Me pego sorrindo
Boba que sou
Acordada ou dormindo
sonhando com o som


Som da tua voz que não ouvi                                                                             
 Voz que antes mesmo de ouvir
p
e
r
d
i

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

palavreando

Críticos amadores, falsos sabedores
Análises superficiais de minha arte
Por toda parte separam o que não se parte
Se parte não é arte. Somos um: eu e minha arte

Volta e meia, meia volta
Carnaval de palavras dança a minha volta. Escolta.
Elas até se amam. Fazem sexo elas. Entre elas. Penetram-se.
Depois brigam e separam-se as minhas palavras.
Mas sempre voltam. Dura meses, quiçá, anos.
Mas sempre voltam quando carnaval.
Ah, as minhas palavras! Críticos, não se atrevam!
São as minhas palavras! Palavras minhas!